Glossário Bilíngue Tradutores
Acapu
Clas. Domínio Ecológico
Árvore alta onde habita o Pai do Mutum, ave personificada que representa a concepção indígena do Cruzeiro do Sul (Crux). Diante da identificação da constelação Crux na via Láctea, a utilização da acapu como morada do referido pássaro, na rapsódia, justifica-se pela sua extrema altura e grande resistência (imputrescível).
Tradução (Olea, Héctor. 1979)
Vucapúa. sin registro en diccionarios.
Modalidade de tradução: Decalque
Estratégia de tradução: Estrangeirização
Na tradução de Héctor Olea, as cinco ocorrências do MC são correspondidas por ‘vucapuá’ em assimilação ao primeiro nome científico da referida árvore (Vouacapoua americana). Considerando que a referida lexia não possui registro lexicográfico na língua de chegada, a estratégia de tradução utilizada foi o decalque, característica da modalidade espelhamento, posto que há uma alteração perceptível na língua de chegada em conformidade a convenção da lexia na cultura de partida.
Retradução (Benedetto, Julieta. 2022)
1 Árbol acapu. sin registro en diccionarios.
Modalidade de tradução: Empréstimo + explicitação
Estratégia de tradução: Estrangeirização
Benedetto realiza a tradução sob as características da explicitação, visto que a escritora adiciona na primeira ocorrência do MC o substantivo ‘arbol’ como forma de situar o leitor do TT sobre a referencialidade do elemento estrangeiro apresentado.
2 Acapu. sin registro en diccionarios.
Modalidade de tradução: Empréstimo
Estratégia de tradução: Estrangeirização
Acutipuru
Clas. Domínio Híbrido (domínio ecológico + domínio ideológico)
Referente ao esquilo Caxinguelê que segundo a lenda brasileira tem o poder mágico de fazer cair no sono, através do pó que libera da cauda, aqueles que lhe ameaçam.
Tradução (Olea, Héctor. 1979)
Acutipurú. sin registro en diccionarios.
Modalidade de tradução: Empréstimo
Estratégia de tradução: Estrangeirização
Na língua espanhola, tanto no texto de Héctor Olea (1979) quanto em Julieta Benedetto (2022), os MC’s ‘Acutipuru’ e ‘Murucutu’ são traduzidos através da modalidade de espalhamento (decalque e explicitação), visto que os MC’s aparecem tal qual apresentados na ocorrência do texto fonte, no entanto com pequena alteração gráfica (emprego do acento agudo (´) e/ou morfológica (alteração da forma em Murucutu).
Na tradução de Héctor Olea, a modalidade explicitação também foi identificada, diante da estratégia de inserção de nota em glossário final sobre os referidos MC’s analisados, como tentativa de garantir a literalidade semântica das palavras e a interpretação que justifica sua aparição na rapsódia, conforme observa-se: “⁷⁵Acutipurí, Murucututú, Ducucú (Acutipuru, Murucutu, Ducucu). Enumeración de dioses del sueño, hecha con evidente intención cómica” (ANDRADE, 1979, p. 120) Contudo, as informações apresentadas correspondem ao que já está posto no texto da rapsódia e não acrescenta conhecimentos relevantes para o entendimento do leitor estrangeiro. Não contemplando, portanto, a funcionalidade do objeto lexicográfico.
Retradução (Benedetto, Julieta. 2022)
Acutipurú. sin registro en diccionarios.
Modalidade de tradução: Empréstimo
Estratégia de tradução: Estrangeirização
Diferentemente de Héctor Olea, Julieta Benedetto não apresenta este MC em glossário final, optando por explicitá-los a partir da descrição existentes no TF (“todos esos dueños del sueño”) e, para indicar o humor resultante nesse trecho, acrescenta que os mesmos fazem referência a elementos presentes em canções de ninar (“todos esos dueños del sueño en canciones de cuna [...]”).
Água de pote
Clas. Domínio híbrido (Domínio material + Domínio ideológico)
Água sagrada utilizada pelo Bento curandeiro para curar a enfermidade de Macunaíma. A denominação água de pote faz remissão a cultura do Candomblé e Umbanda, nas quais o pote é objeto sagrado onde se armazena água que representa a conexão com as entidades espirituais e é utilizada em diversos rituais e oferendas.
Tradução (Olea, Héctor. 1979)
Agua de jarrón. sin registro en diccionarios.
Modalidade de tradução: Tradução palavra por palavra
Estratégia de tradução: Domesticação
Héctor Olea opta por realizar a tradução palavra por palavra, assegurando a referencialidade denotativa do MC na língua de chegada, com perdas de sua significação cultural.
Dessa maneira, compreendemos que as escolhas realizadas pelo tradutor assinala a tendência de domesticação, cujo caminho, nessa situação, promove o apagamento das marcas culturais contidas no MC. Além disso, a ausência de nota explicativa sugere também a falta de acesso do tradutor a significação ideológica do MC em questão, seja pela falta de registro lexicográfico na língua de partida ou pela sua decisão individual de realizar um apagamento proposital desse elemento cultural.
Retradução (Benedetto, Julieta. 2022)
Agua mineral en vasija de barro. sin registro en diccionarios.
Modalidade de tradução: Tradução palavra por palavra
Estratégia de tradução: Domesticação
Na retradução de Julieta Benedetto há um processo de explicitação evidenciado no desenvolvimento descritivo da forma e conteúdo do MC, cuja estratégia deixa subjetiva a referencialidade do objeto e favorece a carência do elemento semântico presente no contexto do TF. Assim como Héctor Olea, a tradutora não insere nota explicativa.
Água num chocalho
Clas. Domínio híbrido (Domínio material + Domínio ideológico)
Água oferecida a Macunaíma criança porque demorava a falar. A prática faz referência a crença da região nordeste do Brasil.
Tradução (Olea, Héctor. 1979)
Agua en un cencerro.
cencerro: Campana pequeña y cilíndrica, tosca por lo común, hecha con chapa de hierro o de cobre, que se usa para el ganado y suele atarse al pescuezo de las reses. (RAE, 2024).
Modalidade de tradução: Tradução palavra por palavra
Estratégia de tradução: Estrangeirização
Na tradução de Héctor Olea, o caminho identificado é a estrangeirização, pois com a escolha da lexia ‘cencerro’, na construção da correspondência para o MC em português, observamos uma tentativa de aproximação a referencialidade da prática cultural apresentada no TF. No nordeste, o objeto utilizado no ritual é de fato o chocalho que os vaqueiros costumam pendurar no pescoço do gado para identificá-lo, através do som emitido pelo sino, quando ele pasta fora.
Retradução (Benedetto, Julieta. 2022)
Agua en un sonajero. sonajero: Juguete con sonajas o cascabeles, que sirve para entretener a los bebés. (RAE, 2024).
Modalidade de tradução: Tradução palavra por palavra
Estratégia de tradução: Domesticação
No que diz respeito a tradução de Julieta Benedetto, ocorre a domesticação. A correspondência apresentada pela escritora argentina trata-se de um brinquedo, geralmente composto por bolinhas internas, que é utilizado para o entretenimento de bebês, conforme registro acima. Essa seleção se distancia de forma expoente da referencialidade material e ideológica que categorizam ‘agua num chocalho’ no contexto do TF e apaga as possibilidades de consideração das marcas culturais na leitura feita pelo público estrangeiro.
Aipim
Clas. Domínio material
Nas duas primeiras aparições na obra, aipim refere-se a um tubérculo utilizado como alimento e no contexto selecionado é a matéria-prima da farinha de mandioca consumida no Brasil. O fato de aipim e mandioca serem aplicados como sinônimos na rapsódia, justifica-se pela aglutinação característica da escrita de Mário de Andrade, pois, no Brasil, os dois elementos se tratam de tubérculos distintos, especialmente no que tange ao consumo por ingestão. Na última ocorrência, há a crença de envenenamento da mandioca representada pelo caldo de aipim lançado no herói; e o seu efeito mítico está relacionado ao fato de ser um alimento que fortalece o sistema imunológico.
Tradução (Olea, Héctor. 1979)
1. tapioca.
tapioca: Fécula blanca y granulada que se extrae de la raíz de la yuca y se cuece en agua o en leche para preparar sopas o postres [...] (DEM, 2024).
Modalidade de tradução: AdaptaçãoEstratégia de tradução: Domesticação
Na tradução de Héctor Olea, o MC ‘aipim’ é correspondido por duas lexias distintas. No primeiro caso, o escritor mexicano opta traduzir ‘aipim’ por ‘tapioca’, em referência na língua de chegada à fécula branca de goma, cuja interpretação parte da tarefa de “farinhar” descrita no TF em período anterior. Entretanto, na ocorrência, o que o herói solicita é matéria-prima, a raíz aipim, para comer. ‘Tapioca’ trata-se da goma ou fécula extraída do líquido da mandioca ou do aipim através da prensa no tipiti (cevadeira).
E, nesse contexto, mesmo que se tratasse do pedido do herói pela farinha, essa correspondência se distanciaria do indicado no TF, já que o produto em preparação é a farinha de mandioca, tipicamente brasileira. Nesse sentido, a referencialidade semântica no TT não corresponde a mesma presente no TF e identificamos, portanto, uma tradução domesticadora realizada pela via da modalidade adaptação.
2. guacamole.
guacamole: Salsa que se prepara con pulpa de aguacate molida o picada, a la que, generalmente, se le agrega jitomate, cebolla, cilantro y chile verde [...] (DEM, 2024).
Modalidade de tradução: “Erro”Estratégia de tradução: Domesticação
Nas duas últimas ocorrências, ‘aipim’ é traduzido por Héctor através do correspondente ‘guacamole’, cuja escolha se distancia, de modo extremo, da referencialidade da lexia presente no TF. Esta escolha ratifica a domesticação presente nesta tradução e a modalidade identificada trata-se do “erro”, assim denominada por Aubert (2006), cuja saída resulta da troca injustificada de sentidos. Sublinha-se que no contexto da língua de chegada, a lexia que efetivamente se aproxima do MC ‘aipim’ é ‘yuca’, a qual também é conhecida em contexto hispanoamericano como ‘guacamote’, segundo registro lexicográfico. Assim, a aparição de ‘guacamole’, cuja palavra é homófona do correspondente na tradução de Héctor Olea, sugere comicidade com a troca de sentido ou equívoco de referenciação.
Retradução (Benedetto, Julieta. 2022)
Mandioca.
mandioca: Gu, Ni, Pa, RD, PR, Co, Pe, Bo, Ar. yuca, tubérculo. (DA, 2024).
Modalidade de tradução: Tradução palavra por palavra
Estratégia de tradução: Domesticação
Na retradução, Julieta Benedetto opta traduzir o MC ‘aipim’ por ‘mandioca’ nas três ocorrências. Em espanhol, a referida lexia é sinônimo de ‘yuca’, cujo significado aproxima-se da referencialidade de uso do aipim no Brasil. Neste caso, o MC é domesticado e correspondido pela modalidade de tradução palavra por palavra.
Assaizeiro
Clas. Domínio ecológico
Nas duas primeiras aparições na obra, aipim refere-se a um tubérculo utilizado como alimento e no contexto selecionado é a matéria-prima da farinha de mandioca consumida no Brasil. O fato de aipim e mandioca serem aplicados como sinônimos na rapsódia, justifica-se pela aglutinação característica da escrita de Mário de Andrade, pois, no Brasil, os dois elementos se tratam de tubérculos distintos, especialmente no que tange ao consumo por ingestão. Na última ocorrência, há a crença de envenenamento da mandioca representada pelo caldo de aipim lançado no herói; e o seu efeito mítico está relacionado ao fato de ser um alimento que fortalece o sistema imunológico.
Tradução (Olea, Héctor. 1979)
Palmera de asaí
sin registro en diccionario
Modalidade de tradução: Empréstimo + explicitaçãoEstratégia de tradução: Estrangeirização
Na tradução e retradução, a correspondência selecionada para esse MC foi ‘palmera de asaí’. Aqui, tanto para Héctor Olea como para Julieta Benedetto, a estrangeirização foi inevitável frente ao desafio de identificar na língua de chegada um item ecológico com referencialidade aproximada a ‘assaizeiro’, conforme apresentado no TF. Ademais, a tentativa de traduzir o referido MC pelo caminho da domesticação promoveria o apagamento integral da relação a lenda indígena, embora na tendência contrária esse reconhecimento esteja subjetivo. Sendo assim, orientados pela estratégia da modalidade híbrida, os tradutores optam pelo empréstimo e explicitação, através de um correspondente de caráter descritivo, no que tange ao significado do MC em português.
Retradução (Benedetto, Julieta. 2022)
Palmera de asaí
sin registro en diccionario
Modalidade de tradução: Empréstimo + explicitaçãoEstratégia de tradução: Estrangeirização
sin registro en diccionario